Nesse artigo vamos traçar alguns cenários possíveis sobre a evolução da Educação Corporativa, projetando-a para o Futuro. É interessante notar que a própria compreensão do que seja futuro parece desprovida de muito sentido, pois tudo à nossa volta se transforma muito rapidamente.
No universo corporativo a fronteira entre a obsolescência e a novidade tornou-se muito tênue e bastante curta a sua travessia. Se abarcarmos esse universo em uma retrospectiva de apenas cinco anos podemos ver que hoje o ecossistema dos negócios é completamente diferente de outrora. As novas tecnologias, disruptivas, mudaram hábitos e preferências, e as empresas tiveram de se reinventar muito rapidamente.
A Educação Corporativa também teve de se adaptar na mesma velocidade e viverá esse desafio constante, o da reinvenção, em curtos períodos.
Qual a importância da Educação Corporativa no Futuro?
Para traçarmos uma projeção futurista da Educação Corporativa, com processos de ensino e aprendizagem arquitetados, patrocinados e implementados pelas organizações empresariais, vale a pena voltar no tempo, ao histórico de como a Educação Corporativa se consolidou como estratégia de desenvolvimento de pessoas e de ganho de produtividade.
Vale observarmos o que se tem praticado atualmente com bons resultados nesse campo e, por fim, antever quais serão os métodos de ensino e aprendizagem mais eficazes no futuro, dentro do ambiente corporativo.
O que podemos afiançar, categoricamente, é que a importância da Educação Corporativa será tão perene quanto o seu próprio conceito, que é o de propiciar aos colaboradores a aprendizagem continuada, cíclica e revitalizada, para que eles se mantenham aptos a exercer as suas atividades laborais com segurança, competências e habilidades adequadas, garantindo a produtividade esperada pela empresa, que deve ser condizente com o seu planejamento estratégico para se manter solvente, competitiva e em franca evolução no mercado em que atua.
Importa também considerarmos a grande importância que Educação Corporativa terá nos próximos anos em mercados como o Brasil e outras nações que tiveram um retrocesso econômico muito acentuado nos últimos anos, sejam quais forem as razões particulares de suas derrotas.
Em um cenário social assim, em que praticamente nada funciona direito, através da Educação Corporativa as empresas assumem, cada vez mais, as suas parcelas de responsabilidade social, inclusive avançando sobre questões de políticas públicas, as quais são negligenciadas pelos governos, que não conseguem entregar aos cidadãos ensinos básicos e profissionalizantes, e atendimentos médicos e psicossociais de qualidade.
Os empresários hoje entendem que, para sanar esses gaps e preparar os seus profissionais para os desafios constantes de capacitação profissional, precisam destinar um bom montante de recursos, em seu budget, para financiar os processos de aprendizagem de seu capital humano, através da Educação Corporativa.
Histórico da Educação Corporativa
A Educação Corporativa despontou nos Estados Unidos, ainda embrionária, na década de 50 (século XX) como um conceito que viria a substituir, paulatinamente, o chamado T&D – Treinamento e Desenvolvimento. Na década de 80, também nos Estados Unidos, a Educação Corporativa ganhou impulso como uma maneira de gerar mais competitividade às empresas, através da capacitação profissional contínua dos colaboradores.
No Brasil, apenas na segunda metade da década de 90 essa prática começou a ganhar relevância, ainda assim em empresas gigantes e globais, com faturamento elevado e milhares de colaboradores em seus quadros de trabalho.
Estima-se que as empresas privadas respondem por 80 % do investimento em Educação Corporativa. E notamos que, desde o seu surgimento, foi o setor privado, em todos os segmentos da economia, que assumiu a responsabilidade pela capacitação interna de seus profissionais.
Isso se justifica pela responsabilidade social, mas também pela necessidade da própria sobrevivência no mercado, pois diferentemente do setor público o mercado corporativo privado é uma selva extremamente competitiva.
Quem não desenvolve o seu capital humano fica para trás. Então, é natural que a Educação Corporativa tenha evoluído, ao longo da história, para um patamar importantíssimo no planejamento estratégico empresarial, que dispende grande soma de recursos, todos os anos, para manter o seu pessoal qualificado, capacitado a cumprir com as exigências laborais que, por sua vez, conferem poder de competitividade e maior produtividade para a empresa.
Os Benefícios da Educação Corporativa
Os benefícios da Educação Corporativa podem ser mensurados por resultados percebidos no aumento de produtividade, no maior engajamento do pessoal à empresa, na retenção de talentos, na diminuição considerável dos índices de turnover e absenteísmo, no clima organizacional positivo, na disseminação do conhecimento e na busca contínua, pelos próprios colaboradores, do autoconhecimento e do desenvolvimento de novas competências e habilidades profissionais.
Alguns dos principais benefícios da Educação Corporativa:
1 – Aumento de Produtividade
2 – Retenção de Talentos
3 – Estímulo à Inovação
4 – Engajamento ou Comprometimento
5 – Desenvolvimento de Líderes
6 – Bem-estar e Satisfação no Trabalho
7 – Fortalecimento da Gestão Estratégica de Pessoas
8 – Valorização da Marca
Em uma pesquisa intitulada Tendências de Capital Humano, da Consultoria Deloitte, 86% dos entrevistados citaram que as novas formas de aprendizagem, proporcionadas pela Educação Corporativa, são uma questão importante ou muito importante no ambiente corporativo.
Os líderes vinculam a efetividade da aprendizagem a novas abordagens de capacitação, ou seja, metodologias e tecnologias educacionais que se relacionam diretamente às competências que são realmente necessárias para o domínio das técnicas e processos de trabalho. Dessa maneira têm-se, consequentemente, o aumento da produtividade.
Isso vale para todas as áreas da empresa e reforça a necessidade de que a aprendizagem deve estar relacionada diretamente ao fluxo do trabalho. Não adianta uma aprendizagem meramente educacional e fora do contexto da realidade do trabalho.
Educação Corporativa: quais os métodos mais utilizados?
Quando a pandemia surpreendeu a todos, no início de 2020, alguns processos de transformação da Educação Corporativa, principalmente no tocante à migração de conteúdos e metodologias de ensino para o universo virtual/digital estavam em curso na maioria das empresas que já haviam institucionalizado a Educação Corporativa.
A necessidade de isolamento social acelerou acentuadamente esse processo de transformação, tanto assim que muitos cursos e treinamentos que seriam ministrados em caráter temporário pela via digital passaram a ser “a regra” , “ o padrão normativo”. Mesmo com o arrefecimento da pandemia os novos formatos de ensino e aprendizagem, digitais, passaram a ser os principais meios de Educação Corporativa.
Isso quer dizer que a Educação Corporativa do Futuro dependerá de estratégias que validem a eficácia da aprendizagem, principalmente pelos vários formatos de e-learning, como veremos a seguir.
Então, relacionamos abaixo os métodos de Educação Corporativa mais utilizados atualmente, com especial atenção àqueles que serão dominantes num futuro bem próximo.
1 – Educação Continuada: como o próprio conceito diz, a Educação Continuada é uma prática que permite a busca do desenvolvimento e aquisição de novas competências e habilidades de forma contínua. A empresa precisa oferecer as condições para que isso aconteça e os profissionais precisam estar sempre atentos e interessados em novos conteúdos, de maneira contínua e sistemática. A Educação continuada envolve hard skills (competências técnicas) e soft skills (competências comportamentais).
2 – Realidade Aumentada e Realidade Virtual: esse modelo de Educação Corporativa já faz parte do rol de modelos de aprendizagem adotados por grandes empresas. Esses modelos baseiam-se no conceito de Inteligência Artificial.
Certamente, no futuro, esse tipo de ensino híbrido, que mescla teoria e prática levada ao extremo por conta das próprias tecnologias da Realidade Virtual e Realidade Aumentada, será menos dispendiosa em termos de investimento, de modo que empresas menores também poderão se beneficiar com regularidade dos seus benefícios.
A Educação Corporativa, por meio desse mecanismo, leva o aluno a ter uma vivência experimental muito próxima, na verdade a mais próxima possível, do que acontece de fato em seu fluxo de trabalho. Isso lhe permite uma assimilação rápida e efetiva dos conteúdos ensinados através da Realidade Virtual e Realidade Aumentada.
3 – Edutainment: novo método de Educação Corporativa que mescla conteúdos a entretenimentos por meio de plataformas multimídias. É uma excelente forma de aprendizagem para alunos jovens, os chamados nativos digitais, que ingressaram há pouco tempo no mercado de trabalho. Aliar trabalho e entretenimento, para esse público, é promover desafios para se alcançar a excelência de uma produtividade latente.
4 – e-learning: divisor de águas e marco fundamental na cultura da Educação Corporativa, o e-learning institucionalizou o chamado EAD (ensino a distância). Através de uma plataforma interativa, especialmente pensada para lincar conteúdos, alunos e tutores, o e-learning possibilita o gerenciamento da aprendizagem de maneira educacional atrelada às demandas da empresa. O e-learning é também um poderoso instrumento de disseminação do conhecimento.
5 – Microlearning: conceito relacionado ao fatiamento de conteúdos para serem absorvidos em curtos períodos de tempo, com o compromisso de gerar impacto e retenção de informação. Essa forma de aprendizagem é bastante útil para o público que dispõe de pouco tempo e/ou tem melhor aproveitamento de aprendizagem dessa forma do que através de conteúdos mais extensos e demorados.
6 – Macrolearning: ao contrário do microlearning, o macrolearning utiliza-se de conteúdos extensos e mais complexos. Essa técnica de Educação Corporativa é adequada para cursos de longa duração e extensa carga horária, como uma pós-graduação, por exemplo.
7 – Mobile Learning: mobilidade é o que configura esse tipo de aprendizagem. Principalmente os profissionais mais jovens têm a tendência de consumir informações por dispositivos móveis. Os conteúdos, no mobile learning, são adaptados para serem consumidos principalmente através de smartphones. Essa forma de aprendizado também confere ao aluno uma boa autonomia para o aprendizado.
8 – Blended Learning: trata-se do chamado “ensino híbrido”. Esse tipo de Educação Corporativa é ideal para cursos e treinamentos que necessariamente envolvem teoria e prática. Conteúdos teóricos podem ser acessados remotamente pelas tecnologias de e-learning, comentadas acima. O ensino prático é essencialmente presencial, como treinamentos de primeiros socorros e outros similares.
9 – Gamificação: aprender brincando resulta de um casamento perfeito entre o real e o lúdico. Essa técnica de Educação Corporativa por meio de jogos (on line ou presenciais) permite que o aluno se concentre nas tarefas, desafios e fases do circuito, de modo que o seu pensamento seja estimulado a traçar estratégias para se chegar a um objetivo. O trabalho em equipe é um componente de peso extraordinário nesse tipo de aprendizagem.
10 – Live: transmissão “ao vivo” de conteúdo de áudio e vídeo através de redes sociais ou outras plataformas. A live permite a gravação simultânea do arquivo do conteúdo gerado, que pode ser acessado depois, a qualquer momento.
11- Webinar: seminário via web, também tido por videoconferência onde apenas o expositor se expressa. O webinar é uma modalidade muito útil à Educação Corporativa porque funciona como uma aula. Os alunos ou espectadores podem enviar mensagens por chat, geralmente sobre dúvidas sobre o conteúdo. O webinar pode ser gravado ou transmitido ao vivo.
Como será a Educação Corporativa do Futuro?
Quando consideramos os recursos tecnológicos envolvidos na Educação Corporativa de hoje e, mais ainda, com a percepção de que novidades nesse sentido aparecem em curto espaço de tempo, não temos como estimar um cenário futuro além de poucos anos à frente, talvez no máximo uma década.
Dentre os onze formatos de Educação Corporativa, relacionados nesse artigo, podemos prever uma demanda futura bastante considerável, nos próximos cinco anos, dos modelos:
– Realidade Aumentada
– Realidade virtual
– Microlearning (principalmente vídeos curtos)
– Edutainment
– Gamificação
– Lives
– Webinars.
* Massiva utilização de Inteligência Artificial permeando esses modelos.
Segundo um estudo realizado pela CrossKnowledge e pelo WTC Business Club, que contou com a colaboração de 178 profissionais da área de RH e Treinamento e Desenvolvimento, algumas estatísticas analisadas corroboram o fato de que a utilização massiva das novas tecnologias digitais de Educação Corporativa, impactarão mais fortemente, no futuro próximo, as formas de ensino e aprendizagem no ambiente empresarial.
Vamos atentar para alguns cenários que foram previstos para 2021, através desse estudo, com tendência de manutenção de boas expectativas em relação a esses mesmos temas em um futuro próximo. Logicamente, pela via digital, presencial e híbrida, outros formatos e competências também farão parte do cenário futuro da Educação Corporativa.
Preferências por Educação Corporativa digital, presencial e híbrido:
Formato híbrido com foco no digital: 73%
Formato híbrido com foco no presencial: 16%
Formato 100% digital: 09%
Nenhum Formato (desinteresse): 02%
Os principais formatos de conteúdos digitais:
Lives e webinar: 86 %
Microlearnings (vídeos curtos) : 68%
Cursos de e-learnings com média duração (até 20 minutos): 58 %
PDF´s e apresentações em power point: 45%
Macrolearnings (treinamentos digitais completos): 41%
Principais Competências a serem Desenvolvidas:
Soft Skills: 81 %
Hard Skills: 61%
LGPD e segurança da informação: 44 %
Saúde e Segurança do Trabalho: 42%
Ética e Compliance: 30%
Normas Regulatórias: 27 %
Apenas complementando, podemos verificar que o Futuro da Educação Corporativa vai passar pela combinação dos diversos formatos de transmissão de conteúdo, sempre com foco no modelo de aprendizagem mais adequado para cada aluno (profissional) ou grupos de alunos (equipe de trabalhos).
Para ganhar tração e volume, num futuro próximo, a Educação Corporativa também será compartilhada pelas Universidades Corporativas Setoriais, na medida em que surgirão parcerias entre empresas do mesmo setor.
Dentre os objetivos da Universidades Corporativas Setoriais, estão a pulverização do investimento em capital humano, a padronização dos conteúdos e métodos de ensino e o atendimento massivo a profissionais de diversas empresas com demandas muito similares.
Com isso, a capacitação do setor, como um todo, acaba sendo disseminada e todos públicos e empresas envolvidas nesse tipo de iniciativa ganharão em conhecimento e competitividade de mercado.
A Educação Corporativa baseada no modelo híbrido, com foco no digital, será muito valorizada, pois os líderes compreendem que a interação social presencial é um aspecto que não pode ser negligenciado na formação da excelência profissional, pois apesar de todo avanço tecnológico digital, as empresas são feitas de pessoas. E são as pessoas que fazem a diferença nas empresas em evolução contínua e antenadas ao futuro.